Reproduzo abaixo a reportagem de Fabiana Marchezi para o Correio Popular em que são feitos comentários sobre a poluição do ar causado pelas empresas do polo petroquímico de Paulínia, que fica há poucos quilômetros à jusante da Bacia do Ribeirão das Pedras.
A reportagem está hospedada no site Paulínia News Notícias (http://goo.gl/b6421);
Polo Petroquímico de Paulínia (Fonte: CEDOC/RAC)
Paulínia: poluição preocupa morador
Por Fabiana Marchezi
Jornal Correio Popular, 24 de março de 2013, página A3.
Tosse, mal-estar, ardência nos olhos e no nariz, garganta seca, dor de cabeça e sensação de sufocamento. Esses são alguns dos sintomas relatados por moradores da região do polo petroquímico de Paulínia, onde a emissão de poluentes vem preocupando moradores. Alguns já pensam até em deixar a cidade ou o bairro por medo de doenças provocadas pela poluição. Apesar da rigidez dos órgãos competentes no controle de emissão de gases e poluentes, as pessoas acreditam que algumas indústrias desrespeitam as leis, principalmente na madrugada.
O recente acordo com ex-trabalhadores da Shell, que trouxe de volta a discussão de um dos casos de contaminação mais marcantes do País, aumentou a preocupação de moradores vizinhos das empresas.
Em 2011, um ranking divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a região de Campinas é mais poluída que a Grande São Paulo. O relatório incluiu 1,1 mil cidades do mundo e mostrou que a região é a terceira mais poluída do País e ocupa a 267ª posição no ranking mundial, com emissão de 39 microgramas de poluentes por metro cúbico de ar — quase o dobro do máximo recomendado pela OMS, de 20 microgramas por metro cúbico. O parque industrial de Paulínia e a grande frota de veículos a diesel são as principais causas.
De acordo com a professora aposentada Marli Aparecida Delacqua, de 54 anos, que vive em Paulínia há mais de 30, a percepção é de que poluição piora a cada dia e as partículas acumuladas na superfície são cada vez mais visíveis, principalmente um pó branco—a sílica “Na madrugada de ontem passei muito mal. Tive tosse, ardência nos olhos, sensação de sufocamento. Não dava nem para sair e buscar ajuda. Meu marido precisou vedar com panos molhados as portas”, disse. Ela vive no Jardim Vista Alegre, perto das indústrias.
A preocupação maior dos moradores é com as crianças. Ana Júlia Hoshika tem 3 anos, já teve conjuntivite e vive com a garganta inflamada, problemas que, segundo especialistas, são agravados pela poluição. “Eu penso em sair daqui, principalmente por causa dela, mas temos uma vida aqui. Meu marido é produtor rural, fica difícil abandonar tudo e começardo zero”, disse Iderenice Martins de Sousa, de 30 anos, mãe de Ana Júlia.
Nem as plantas e os animais resistem à poluição, dizem os moradores. “Plantas naturais nem compro mais. Aqui em casa é tudo artificial. Minha preocupação é com os meus cachorros. Eles vivem com vômito e diarreia e, agora, um deles está com feridas que não cicatrizam. O veterinário não descarta a possibilidade de ser alergia decorrente de sílica, que fica espalhada no quintal. Só este ano já gastei mais de R$ 1 mil em remédios e pomadas”, afirmou.
Para o ambientalista Henrique Padovani, a poluição é preocupante, principalmente porque Paulínia, geograficamente, está no fundo de uma bacia, onde há muita circulação de vento e formação de redemoinho, dificultando a dispersão. “A geografia não ajuda e as indústrias despejam os mais diversos tipos de poluentes, o que é muito prejudicial à saúde.”
Segundo ele, durante as madrugadas, os incineradores funcionam a todo vapor. “Enquanto os moradores estão dormindo, as empresas abusam na liberação de poluentes”, disse. Padovani disse que as leis ambientais são boas, mas falta fiscalização. “É preciso fazer com que elas sejam cumpridas.” De acordo com a bióloga Maria de Fátima Tonon, da Pró-Ambiente Assessoria Ambiental, a bacia atmosférica da região está comprometida e isso tem levado os órgãos ambientais a serem rigorosos nos licenciamentos das indústrias. “Há um controle muito grande, mas ainda assim é fato que a poluição atmosférica emPaulínia é acima do ideal e isso acarreta doenças respiratórias”, afirmou a bióloga.
Para Edson Tomaz, professor do Departamento de Engenharia de Processos da Faculdade de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) , atualmente, os níveis de concentração de poluição em Paulínia estão dentro dos padrões. “No geral, o município tem problemas de poluição urbana, enfrentados em qualquer cidade em uma área com bastante veículos. Mas não podemos fechar os olhos para a poluição industrial. Na região mais próxima das empresas, há propensão maior”, disse. “Há um controle da Cetesb no que diz respeito a poluentes mais danosos, mas é preciso ver casos específicos. Se as empresas estiverem liberando altos índices de poluentes na madrugada, precisam ser denunciadas e multadas.”
Cetesb diz que controle é diário e rigoroso
A Cetesb informou que controla diariamente os índices de poluição de Paulínia, onde estão instaladas quatro estações de monitoramento. Entretanto, em nota a companhia orientou que os moradores façam denúncias imediatamente à agência ambiental de Paulínia caso percebam algum abuso por parte das indústrias.
“Reforçamos que, por ocasião dos episódios de poluição, os cidadãos entrem imediatamente em contato com a agência ambiental e denunciem a ocorrência, para possibilitar o pronto atendimento e a devida averiguação do problema”, diz o comunicado.
Na nota, a Cetesb afirmou que a Agência Ambiental de Paulínia mantém sistemática de atendimento a reclamações da comunidade. “Quando são constatadas emissões de poluentes acima de padrões legais, o autor identificado das emissões é autuado.
Além disso, nas ações de licenciamento ambiental, em especial na renovação das licenças de operação de empreendimentos existentes na região, são solicitados planos de melhoria ambiental, a ser implantados na vigência da futura licença de operação.” Os telefones para denúncias são (19) 3844-0466 (horário comercial, em dias úteis) e 0800-113560 (fora do horário comercial e em finais de semana). Além disso, a agência está à disposição da população, para atendimento pessoal, à Rua Ângelo Varandas, 550, no bairro Santa Terezinha.
Já a Secretaria do Meio Ambiente, da Prefeitura de Paulínia, informou que trabalha em conjunto com a Cetesb, verificando se as empresas estão cumprindo as normativas. A Administração também reiterou que, quando quando há alguma denúncia ou verificação de emissão irregular, a empresa é identificada e autuada.
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